Dizem que logo antes de morrer, sua vida inteira passa diante dos teus olhos, mas não foi bem assim comigo. 
 Para dizer a verdade, eu sempre achei terrível essa história de rever tudo no momento final. Algumas coisas ficam bem melhores esquecidas, mortas e enterradas, como diria a minha mãe. Eu ficaria muito feliz em esquecer muitos dos momentos da minha vida, como por exemplo - Julho de 2007 - ou até mesmo - 29 de agosto de 2008 - ou a minha quarta série (fase da gordinha usando a moda da saia de prega e os meiões coloridos). E alguém iria querer reviver o primeiro dia do ensino fundamental? Junte isso, a todas as férias chatas em família que você foi obrigada a ir, as aulas  de química sem o menos propósito (pelo menos naquele momento), as terríveis cólicas menstruais, os tombos que faziam com que você não soubesse onde enfiar a cara, e aquele primeiro beijo, que no momento foi bom (ou não) mas que com o tempo você descobriu que foi o pior de sua vida, pois não sabia ao certo, o que fazer.
 A verdade, apesar disto, é que eu não me importaria em reviver os meus melhores momentos: As viagens com a mamãe, os abraços do meu avô, as férias no interior em que eu revia as minhas amigas, as festas que geravam toda uma produção,  os encontros (...)

   Mas, antes de morrer, eu não pensei nas viagens que fiz com minha mãe, nem no abraço de meu avô. Não pensei nos encontros maravilhosos que tive com minhas amigas. Nem sequer pensei na minha família, nem na maneira como a luz da manhã pinta de creme as paredes do meu quarto, nem o cheiro maravilhoso que fica logo após a chuva tocar a terra - uma mistura de sensações.
 Em vez disso, pensei em todas as lágrimas que fiz minha mãe derramar.
 mais especificamente: Pensei nas tristezas que causei a minha família. Sabe aquela sensação de "Eu poderia ter evitado aquilo", ou até mesmo, "Por quê?", é, foi assim que aconteceu, o meu último flash, a última sensação, a última lembrança.. não foi um sorriso, foi um aperto no fundo do peito, a sensação de missão não cumprida.
   Os últimos segundos, antes de partir, duraram mais do que os anos vivenciados. 
 Tudo ao meu redor se congelou, tudo escureceu, eu estava ali, parada, no meio de uma estrada, e o carro bem a minha frente.
 O que é mais estranho, é que durante a vida, eu não pensava nestas tristezas havia anos, e de repente, tudo veio a tona. Peso na consciência? Talvez. 
 Foi estranho.
 A questão é: você não tem como saber. Você não acorda com uma sensação estranha no estômago. Não vê sombras que não existem. Não se lembra de dizer a seus pais e amigos o quanto os ama, nem mesmo sabe a hora de se despedir deles.
  Você simplesmente não sabe.






Eu me lembro de uma vez em que assisti um filme antigo com a minha mãe; nele o protagonista falava sobre quanto é triste o fato de que na última vez que a pessoa faz sexo, ela não sabe que é a última vez. Mas eu suponho que seja assim para a maioria das coisas na vida. O último beijo, a última risada, a última vez em que você se senta no sofá para assistir um filme ou um capítulo da novela ou seriado que tanto gosta. 
Você simplesmente não sabe.
 Mas acho que é uma coisa boa, na verdade, pois se você soubesse seria quase impossível deixar de fazer.
 Quando você sabe, é como se lhe pedissem para se afastar da beira de um penhasco: Tudo o que você quer fazer é cair de joelhos e beijar o chão firme, cheirá-lo, segurar nele.
Acho que se despedir é assim - como pular de um precipício. 
 A pior parte é tomar a decisão de fazê-lo. 



Fernanda Messias.




Sempre fico escondida, comendo longe de todos, ficando longe de todos. As pessoas passam no corredor, ocupadas com seus celulares, amigos, namorados ou ego, nunca reparam em ninguém além delas mesmas. Sempre sorrio, nunca mostro o que simplesmente sinto.. as pessoas não se importam mesmo, até me fazem passar despercebida. Pego meus livros, o meu caderno e me isolo, finjo que estou ocupada estudando para a prova de biologia, escondendo minhas lágrimas dentre as folhas, escondida, sem me importar em molhar as páginas. Elas estão acostumadas com a chuva que cai em cima delas todos os dias. 

Apenas queria que alguém perguntasse meu nome, apenas perguntasse como eu estou, me fazer sorrir, mais as pessoas estão preocupadas demais com suas vidinhas. Até tentei ser amigável, tentei me enturmar, tentei me “encaixar” mais as pessoas não querem sua reputação afetada por alguém. Por alguém que elas julgam ser insignificante. Alguém que destruiria seu ego, como a maré passando por cima de um castelo de areia. Apenas fecho os olhos verdes e vejo os dias passarem, contando o tempo, vivendo meu sofrimento, tentando me controlar, ali, escondida, sozinha, tentando fazer com que as lágrimas parem...

tentando forçar novamente um sorriso, tentando ignorar o olhar de reprovação e as reviradas dos olhos das pessoas, cochichando e dando risadinhas irônicas (odeio isso).

As pessoas são monstros, não se põem no lugar das outras que fazem tanto sofrer. Se elas se colocassem iriam arregalar os olhos e ver o quanto elas podem ser más e egoístas. Às vezes apenas precisamos de alguma palavra, mesmo que seja por acaso, isso faz nos sentirmos melhores, mais não é bem assim com as pessoas. Elas me forçam a ficar ali, escondida, comer minhas barrinhas e tomar a minha coca sozinha, chorar sozinha, querer gritar desesperadamente e fingir um sorriso. 

As pessoas podem ser mais cruéis do que pensamos.

Até que um dia, um rapaz de olhos encantadores sorriu pra mim, conversou comigo, me fez sentir melhor, me fez sorrir verdadeiramente, sem precisar forçar, e desde desse dia, sempre tive alguém pra cantarolar comigo ali, escondida e alguém com quem eu podia dividir as minhas barrinhas.

E meus livros nunca mais ficaram molhados. Nunca mais precisei enterrar meu rosto neles...

até o dia em que ele partiu!





 Saudade é não saber.. 
 Não ter a certeza de nada..
Não saber mais se ele continua se gripando no inverno.
 Não saber mais se ela continua pintando o cabelo.
 Não saber se ele ainda usa a camisa que com tanto amor, você deu. 
Não saber se ela foi na consulta com o médico como prometeu. 
Não saber se ele tem feito tudo direito, se ele tem ido a faculdade, se ele aprendeu a entrar na Internet, só para ler o que para ele você escreve.
 Se ele aprendeu a estacionar entre dois carros da maneira como você ensinou, 
se ele continua fumando, se ela continua preferindo Refrigerante sem gás, se ele continua sorrindo, se ele continua saindo, se ele continua cantando, se ele continua lhe amando. 
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. 
Saudade é não querer saber. 
Não querer saber se ele está com outra, se ele está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais belo. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer. 






Não tente me reconfortar. Não me digas palavras de carinho. Não me peças para sorrir. Por agora, não me peças nada.
Não me peças para sorrir, quando nem os meus lábios se irão abrir para uma palavra quanto mais para um sorriso. Os meus braços, que tantas vezes se estenderam à procura dos teus, hoje estão contra o peito, como se tivessem o poder de salva guardar o meu coração.
Eu vou estar aqui, à espera que as minhas esperanças morram de fome.
Dei-te o que de mais precioso tinha: os meus sentimentos. Só os soubeste desprezar.
Enquanto estás a rir, o meu coração aperta por estar longe de ti. Quando choras por alguém não te amar, cá dentro dói, por não ser em mim que buscas esse amor que tanto anseias.
Sabes que mais? Eu não te iria pedir a lua, apenas gostava que te sentasses comigo por baixo dela. Partiste-me o coração, mas mesmo assim, cada caco que dele faz parte continua a amar-te, como se estivesse completamente intacto, e sem qualquer cicatriz. Ele ainda bate por ti, simplesmente tu é que já não o queres ouvir.
Vou esperar o momento de recuperar todas e quaisquer esperanças que me restam e, só as cicatrizes que dele ficarem me poderão lembrar que foi real. Até lá, não me peças nada.